(HÁ) MODA DO PORTO

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     Não me lembro do primeiro dia que descobri o meu gosto pela moda, e por tudo o que por ela é transversal. Lembro-me de ter uma pequena noção do que esta indústria era, mas com o tempo fui desenvolvendo as minhas próprias maneiras de escapar às superficialidades deste meio.
      Recordo-me de ter como referência montes de "famosos" (o que eu achava que eram na altura) e dizer que queria ser como eles. Hoje, tenho a noção que quero tudo, menos isso. Não quero ser o fútil que posa para uma revista só porque tem complexos de inferioridade e traumas de adolescente, apenas não quero. Não vejo a necessidade de me sentar numa primeira fila de um desfile, se o meu objectivo for ficar a olhar para um desfile do qual nem o nome da marca sei, mas estou lá porque fica bem. Quando crescemos, notamos que o mundo nunca foi como nós achávamos que era. Talvez, se tivéssemos todos fugido para a terra do nunca,  lá sim, seriamos felizes, sendo crianças para sempre. A racionalização dos pensamentos torna-se tão constante quanto o mau humor matinal e torna-se chato, porque chegas a uma altura que percebes que tudo te afecta. E a tua mãe, não vai estar lá. Se calhar até está, mas tu tens vergonha de recorrer a ela, porque era suposto já teres autonomia suficiente para a te manteres. Não se torna fácil, ao invés, torna-se difícil todos os dias. 
      Sempre tive a noção que para trabalhar numa indústria como a da moda, era preciso ter muito estofo e  força (em quantidades ilimitadas), só nunca pensei que fosse tão difícil. E sim, a moda tornou-se tão "moda" que não são os que têm verdadeira vocação para o trabalho que o fazem, mas sim, aquelas pessoas que, infelizmente, acham que somar 2+2 é a uma equação de segundo grau. Burros? Não. Não são burros porque são esses que se deixam levar por uma vida de contactos e vêem o seu (mau) trabalho reconhecido. Ora, como somos tão estúpidos, como observadores, tendemos a olhar para um trabalho para felicitar a pessoa, quando na realidade, a única resposta que devia ser dada (a essas ilustres pessoas) era um: "Sai do caminho e deixa quem sabe, fazer o trabalho".
      Desde que fui crescendo, a minha mãe sempre me foi dizendo que o trabalho, raramente é reconhecido, e sim, é verdade. Sinto que a cada passo que dou, estou mais um passo atrás e não à frente, enquanto que os supostos "entendidos" na matéria, para além de não conseguirem fazer uma construção frásica, são as pessoas que mais basicamente trabalham. Mas as pessoas batem-lhes palmas. Não vejo melhor sítio para analisar a nível micro desta base da indústria da moda do que no Porto. Aqui todos pensam que são stylists, fotógrafos, modelos. E realmente são ... durante aqueles 5 minutos em que as pessoas não percebem o quão impostores são e decidem mete-las no seu devido lugar. Existe, de dia para dia, cada vez mais novos nomes no campo do design e esses "pequenos" mercados querem tanto o sucesso que em vez de procurarem nomes mais fechados, mas capazes, procuram os nomes mais sonantes que, porém, nem areia na cabeça têm. É a real verdade. A moda cá rege-se por princípios que não lembram nem mesmo ao diabo. O mais interessante, é ver que muitas vezes o que as pessoas recebem por trabalhos é mais que nada, é um nada recheado de um nome envolvido num trabalho que nunca sairá de uma rede como o facebook. É cool ter  o meu nome numa editorial qualquer, é cool porque as pessoas vão ver e vou ser reconhecido. 
     A minha pergunta é: Reconhecido? - Querem estas pessoas serem reconhecidas por trabalhos de merda? 
       Sinto que a cada dia as pessoas perdem o humanismo e cada vez mais querem alcançar a fama de uma forma muito estúpida e fácil. Tenho este blog faz 3 anos, e tenho 20 anos. Não me lembro de um único dia em que não pense que de forma posso tornar isto mais agradável para todos, porque sim, o meu objectivo sempre foi ir ao encontro das necessidades das pessoas. Peço desculpa (ou se calhar até não) se não publico fotografias do meu estilo (ou da tentativa dele) todos os dias, para fazer com que todos os que seguem o blog pensem que sou uma micro-celebridade, que se esconde no vintage para que todos sigam as mesmas tendências que eu. O mundo da moda, é isto. Mantém-se tanto numa ténue linha entre o ridículo e o criativo que muitas vezes, já nem sequer existe linha. Sendo que depois, temos os sugadores de trabalhos. São aquelas pessoas que vêm da santa terrinha com a cabeça apenas no prémio: o sucesso. Não culpo essas pessoas por querem o mesmo que eu .... Culpo-as por não saberem lidar com isso da mesma forma que eu. Não existe necessidade de "comer" tudo o que aparece à frente, apenas sim, temos de "comer" o melhor para nós. E não me venham com merdas, porque toda a gente sabe que metade destas pessoas são ocas e que a única coisa que os difere de um cidadão normal é usar sotaque francês para dizer "Balmain". O meu objectivo não é ser duro, mas se o tiver de ser: porque não? 
      Não creio que todas as pessoas que são A indústria portuguesa de moda queiram seguir o pensamento do senso comum: "As pessoas de moda são fúteis e não têm mais nada nada na cabeça". 
      Felizmente, graças sejam dadas a muitas das pessoas maravilhosas que temos no porto a trabalhar neste sector, cujas capacidades intelectuais não passam apenas por juntar o branco e preto porque ouviram dizer que fica bem em sessões fotográficas.
     Concluindo, fico com pena, que na mesma situação que eu estou, estejam muitas mais pessoas. Não se trata de não sermos nós a lutar, mas sim das oportunidades que os outros não nos dão, só porque existem pessoas que se metem na cama com as pessoas certas e estão dispostas a tudo e mais alguma coisa, para ter mais de 1000 gostos numa página de facebook. E já agora, se eu quisesse ler o "Artur In The Woods" (pelo qual tenho imenso respeito e apreço) duas vezes, faria isso na página oficinal... Não creio precisar de um outro blog-com-um-nome-que-não-interessa-para-aqui para o fazer. 
    Por último... Enquanto que o preço dos lençóis (cheios de vergonha e perda de dignidade) for o supra-sumo do alcance do sucesso de um trabalho (que não é o vosso), não creio que morram dignos de vocês próprios. 

  Saudações de uma pessoa cujas habilitações não são sequer valorizadas por uma indústria regida pelo prazer imediato ao invés da impessoalidade do trabalho proposto. Obrigado a todos vocês, por fazerem de mim a pessoa que tem orgulho de não se meter numa cama para conseguir um trabalho. Afinal, prefiro morrer com menos mas com os meus valores, do que com tudo e ser a "puta" de tudo e todos. 

Já agora, um abraço e até nunca. 


Tiago Miguel Andrade
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