A palavra Lazaretto (ou lazareto) é um termo que pouco diz à sociedade de hoje em dia - define-se no dicionário como um hospital para leprosos onde os doentes estavam de quarentena. E Jack White não escolheu esse nome em vão para o seu mais recente trabalho. Desde os White Stripes (a sua antiga formação) que Jack tem procurado construir uma identidade própria, dividindo-se entre o passado e o presente. “Lazaretto”, o seu segundo album a solo, mostra-nos a sua visão muito própria do rock, que delicia o ouvido de qualquer simpatizante de White e só nos faz querer viajar mais e mais pelo seu mundo.
O ponto de partida é “Three Women”, que tem como ingrediente
principal uma linha de baixo no ponto, com a guitarra, as teclas, a bateria e a
letra a guarnecer da melhor maneira, capaz de colar logo na cabeça do ouvinte o
“Lordy Lord!” do refrão. Isto, como já é hábito, sem nunca se esquecer de
condimentar tudo com ironia q.b., bem evidente em todo o
álbum. Segue-se “Lazaretto”, música que dá o nome ao álbum e primeiro single do
mesmo. Um funky-rock dançável, com guitarras aguçadas e um solo de violino que
não podia cair melhor, a mostrar a facilidade que White tem nos ritmos mais
groovy. As faixas 3 e 6, “Temporary Ground” e “Just One Drink” respectivamente,
mostram-nos o seu lado mais country: a primeira mais romântica e a segunda a deixar-nos
vontade de abrir as portas do saloon e pedir um whiskey puro. Entre essas duas,
“Would You Fight For My Love” traz-nos todo o dramatismo e teatralidade do rock
de White e o peso épico do experimentalismo em “High Ball Stepper” não é para
os ouvidos dos mais fracos. Ambas com guitarras distorcidas de levar as mãos à
cabeça e vocais heróicos que dão vontade de encher os pulmões e cantar até
ficar sem ar, estas duas músicas fazem, na minha opinião, o ponto alto do
álbum. “Alone In My Home” traz-nos uma música enganosamente alegre e viva
(apercebemo-nos que esse não é o sentimento ao ouvir a letra), e logo a seguir
“Entitlement”, sofrida e melancólica, momento em que nos põe a pensar “Oh Jack,
vai lá curar essa depressão…”. Mas a verdade é que com esta antes, a música que
vem a seguir resulta ainda melhor: “That Black Bat Licorice” torna a trazer-nos
um funk muito bem “arockalhado” e a pôr-nos o corpo a dançar. A seguir, White
mostra mais uma vez a beleza das composições em “I Think I Found The Culprit”,
digna de ser fazer parte de uma banda sonora de um western moderno. “Want and
Able” é última música do álbum, curtinha, muito simples e até banal. É Jack a
acenar de longe, só para terminar a ser simpático.
Inventivo, versátil e
humoristicamente sombrio. “Lazaretto” preenche-nos com a verdadeira essência de
Jack White deixa-nos fascinados com a sua persona e todo o trabalho e empenho
gigantes. Ele sabe quem é e sabe bem o que nós queremos.
Luísa França
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